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OPINIÃO: Um sonho

Dia 16 de agosto fez 41 anos da morte de Elvis Presley. Não sei se chamá-lo de meu ídolo é uma definição correta, pois nem o conheci, eu era pequena quando ele morreu. Na realidade, eu sou fã das músicas dele. Meu gosto por elas iniciou ainda no berço, minha mãe tinha vários de seus discos. Quando ele morreu, sugestionada pelos filmes e programas de televisão, conheci a sua história e passei a gostar, ainda mais, de suas músicas. Não sou a única, porque Elvis vendeu mais de um bilhão de discos no mundo todo, sendo que mais da metade, após a sua morte. Mesmo passados mais de 40 anos da data de sua morte, mais de 600 mil pessoas anualmente visitam a sua mansão, Graceland, em Memphis, no Tennessee, segundo registros da prefeitura, gerando cerca de 150 milhões de dólares adicionais a economia da cidade.

Como fã de suas músicas e por estar nos Estados Unidos, resolvi conhecer a cidade e a mansão de Elvis, onde, hoje, funciona um museu. De Saint Louis, onde eu estava, até Memphis, foram quase 500 quilômetros por estradas cuja paisagem é quase que exclusivamente de plantação de algodão. Optei por pernoitar na cidade, a fim de conhecê-la melhor, o que me possibilitou fazer duas vezes o roteiro no complexo turístico de Elvis, que tem mais de 18 mil metros quadrados, além de sentar no jardim para ouvir suas músicas. O complexo inclui a mansão e seus jardins (no jardim da meditação está o túmulo do cantor), os estábulos que foram adaptados para abrigar os discos de ouro e prêmios recebidos pelo cantor ao longo da carreira, além de fotos, objetos e algumas de suas roupas (a do casamento e shows), lojas de souvenirs, pavilhões com sua coleção de carros e dois aviões.

À tardinha do primeiro dia, fui ao centro da cidade, o qual tem as ruas fechadas para o trânsito de carros. Os bares e lojas colocam seus artigos para venda nas calçadas, onde a figura do Elvis de papelão convida a entrar, conhecer os estabelecimentos e ouvir um pouco da história do cantor. Memphis é uma das cidades mais desenvolvidas do país em decorrência de sua localização estratégica às margens do Mississipi. Seu nome decorre de uma homenagem a cidade egípcia de Mênfis, que se localizava as margens do Rio Nilo. Memphis também se destaca no âmbito cultural, sendo considerada uma das cidades mais importantes da música norte-americana.

As músicas de Elvis, o timbre de voz e a forma com que se vestia, dançava e se expressava foram únicos. Cantou todos os estilos de música, do rock, blues, country ao gospel. Desafiou as barreiras sociais e raciais de seu tempo. Elvis sofreu muito preconceito no inicio da carreira, pois sua influência musical era sulista, cresceu num ambiente de música negra e a sociedade da época rejeitava àqueles que viviam no Sul, já que boa parte da população era (e ainda é) negra. A música negra era, até mesmo, proibida de ser tocada nas rádios e nos bares. Fiquei sabendo que uma juíza da infância foi assistir a um de seus shows em face de uma petição de mães contrárias à forma como ele dançava. No final do show, ela entregou uma ordem ao empresário do cantor, que dizia para acalmar o seu garoto, sob pena dele ser preso, pois seus gestos eram considerados obscenos.

Mas de tudo o que vi, ouvi e conheci, além de realizar um sonho de infância, o mais importante foi saber que, logo após o assassinato de Martin Luther King Jr, que ocorreu em Memphis, Elvis gravou a música "If I Can Dream - Eu Posso Sonhar" - baseada no discurso que o ativista fez em 28 de agosto de 1963, intitulado I Have a Dream - Eu Tenho um Sonho - e a cantou no encerramento de um programa de televisão, contrariando seu empresário e patrocinadores, a fim de demostrar sua profunda tristeza pela disputa racial e política que dividia o país. Elvis, na sua vida particular, não foi um exemplo a ser seguido, mas na vida pública usou sua voz para destacar a cultura negra, amenizar a disputa racial e dizer que todos deveriam sonhar com um mundo melhor, pois, se milhões de pessoas acreditarem no mesmo sonho, por que ele não pode se tornar uma realidade? Por que não podemos viver num mundo onde todos sejam igualmente respeitados, sem distinção de raça e cor?

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